Eloiza Marinho
Todo ano de eleição é a mesma coisa. Somos bombardeados por uma “chuva meteórica de políticos” (ou seriam politiqueiros?) que surgem de todos os lados. Quem são eles?
Alguns passaram os anos sem fazer a-b-s-o-l-u-t-a-m-e-n-t-e nada em prol da população. Foram anônimos no exercício da própria cidadania e agora decidem que “é hora de fazer carreira na política”.
A gente nem sabia ou nem lembrava que tais figuras circulavam pelo meio político.
Outros definem sua “ação política” pelos acalorados discursos, preferencialmente de acusação ao seu principal opositor. Resume-se na demagogia, sua “carreira política”.
Papel também comum é o daquele que, eleito, nunca comparece aonde deveria estar; seu voto nas grandes (e pequenas) questões de interesse popular é sempre nulo, branco, ausente. Ausente nas necessidades do povo, é omisso por opção, por decisão, por caráter.
Há também aquele que é conduzido por “forças ocultas”. Não é propriamente o fantasma, mas está a seu serviço. Não vou incorrer no impropério de chamá-lo de pai-de-santo, pois respeito à diversidade religiosa, resultante desse nosso Brasil tão plural. Assim, lembro os mamulengos, as marionetes conduzidas por mãos profissionais, afinadas ao exercício de conduzir as peças teatrais de bonecos, cuja platéia manifesta-se a cada tempo de eleições... e só. Interessante é que os mamulengos quase acreditam que têm vida própria, repetindo as orientações dos condutores, assumindo suas lutas, seus interesses, seus desafetos, como se fossem próprios.
Não poderia deixar de falar do já citado “fantasma”. Um dos mais conhecidos entre nós. Não trabalha, não constrói, não se envolve. Não discute porque também nunca está presente. Classificado como “sujeito” na Língua Portuguesa, obviamente seria o “Inexistente” ou, na melhor das hipóteses, “Oculto”. Apesar do seu total descompromisso, a Nação, o Estado ou o Município continuam. Agora, justiça seja feita, na hora de receber seus gordos honorários com os adicionais que a mordomia estatal lhe concede, o sujeito torna-se bastante existente, vivo e esperto/expert.
Bom mesmo é aquele que jura que está fazendo a chamada “articulação política”. Pode parecer nome novo para os menos desavisados, mas serve para classificar as velhas negociatas, prática própria dessa trupe que diz fazer política. É também o cargo do “bobo da corte”, fofoqueiro de plantão, o leva-e-traz que ganha para isso mesmo. E dinheiro público, é claro, o que é pior. Sua função é garantir a chamada “governabilidade”. Em nome da qual “vão-se os anéis... e os dedos também”.
E desse meio, tão desprezível para muitos de nós, reles cidadãos pagantes de impostos, sempre surge aquele que há de ser diferente. Fala bonito, tem um passado limpo, de preferência um trabalhador como o povo, cheio de idéias, ideologizado, convicto dos ideais democráticos, libertários, de justiça social e coisa e tal. “O diacho é que quando chega lá fica tudo igual os outros”, dizem os menos crédulos, os mais pessimistas, diríamos. O discurso de mudança é o que leva o povo cansado e, principalmente, os jovens, a novamente empolgar-se e acreditar que “dessa vez será diferente. Com esse, o futuro vai ser melhor. Chegou a nossa hora.”
O marketing brinca com o sofrimento do povo, faz arruaça com a emoção popular. Usa, abusa da confiança do povo humilde, da força que possui de nunca desistir; lutar, lutar sempre, acreditando que dias melhores virão. “Esperar contra toda esperança”. Daí decidem seus votos.
Mas os marqueteiros não estão sozinhos. Eles constroem o personagem que os “grupos político-econômicos” nacionais e até internacionais têm interesse em “vender” para o povo. E o político interesseiro cala, consente. Quer tornar-se celebridade, quer levar sua parte da “articulação política”, quer manter-se no centro da trupe, crescer... crescer... crescer... e aparecer.
Certamente nunca leram textos como “O analfabeto político” de Bertolt Brecht e, muito provavelmente, nas faculdades e escolas que, por ventura, tenham freqüentado na vida, jamais falaram de ética pessoal, na profissão... ou de política como “arte de cuidar de um povo” ou de “governar, de gerir os destinos da cidade com retidão”. Refletir, filosofar sobre essas e outras concepções, eu sei, já é querer demais. A política que conhecem bem e praticam é a política de gerir interesses pessoais e de seu grupo. É de cunho ideológico como justificação do poder, consolidando as diferenças, perpetuando a crença de que “manda quem pode...” É o poder da esperteza. Poder este, legitimado por nós, cidadãos, nas urnas, em cada eleição.
Ficamos, portanto, a mercê da esperança em cada novo pleito. Quem sabe, algo acontecerá dessa vez... Quem sabe, alguma coisa se transforme na consciência e na postura daqueles que pensam que já sabem tudo de política. Quem sabe, seus sucessores aproximem-se mais do que realmente é essencial nesta: o ser humano, o cidadão, o cuidado com o povo, a participação coletiva e ética nas decisões da vida social. Entretanto, é preciso mais que esperança... É preciso coragem para arriscar, pois nosso voto tornou-se uma questão de risco. “Nada se conhece e todos se transformam”, em se tratando dessa política.
Então, escolher com base em quais critérios?
Corrente ideológica? Partidos e partidários mudam de idéia e de ideal conforme a “direção do vento”, em cada período eleitoral!!
História política? Xiii!!! Tem cada uma que daria uma bela novela das 7:00 ou até justificaria uma “Linha Direta Especial”.
Serviços prestados!? Em prol de quem, cara pálida?!
Propostas coerentes, viáveis, consistentes... Sem nenhuma garantia de continuidade do que já existe e funciona, nem que a “articulação para a governabilidade” permita que sejam implementadas depois.
A lista vai longe e as justificativas também. Desse jeito, o que esperar?
Não esperamos que os senhores “políticos-cadidatos” façam coisas extraordinárias, inimagináveis, mas que garantam o necessário, o justo, o correto para os cidadãos, para a sociedade, de forma ética, transparente, compartilhada. Que façam Política! E aí o poder autêntico do povo, legitimará o poder do cidadão eleito.
Não esperamos que os senhores “políticos-cadidatos” façam coisas extraordinárias, inimagináveis, mas que garantam o necessário, o justo, o correto para os cidadãos, para a sociedade, de forma ética, transparente, compartilhada. Que façam Política! E aí o poder autêntico do povo, legitimará o poder do cidadão eleito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário